domingo, 22 de maio de 2016

Alfaces e alcatrão

Retomei as minhas caminhadas...acho que pela terceira vez este ano e vamos em Maio. Tenho uma desculpa, um percalço de saúde. Neste momento acabaram-se as desculpas. Entretanto a paisagem junto à minha casa transformou-se. O essencial ficou, o que me dá uma alegria imensa. A estrada que antes era de terra batida e deixava os caminhantes repletos de pó é agora de alcatrão. As hortas e as estufas dos vizinhos que, ao contrário de mim, que vivo das palavras cantadas e escritas, semeiam a terra e dela dependem para sobreviver, estão prontas a ser colhidas. Graças a eles, vivo, não sobrevivo apenas. Graças a eles a terra que me rodeia vai sendo protegida para cultivo de produtos hortícolas, em vez da prioridade costumeira, dada à construção. Graças a eles, encontro carreiros intermináveis de alface verde e roxa, semeadas mesmo até ao início do alcatrão, onde raramente um automóvel passa. Com a estrada macia como veludo e cetim picotado, os automóveis circulam agora bem mais velozes:  cobras, lagartos, saca-rabos, raposas, coelhos, ginetas e outros bichos terão de se acautelar, se não pretenderem ser passados  "a ferro" pelas rodas apressadas, que encurtam o caminho passando pela "estrada nova" na qual, felizmente, poucos reparam. 
 Peço desculpa ao eucalipto e, à passagem, regressando a casa, arranco uma das suas folhas: esfrego-a entre os dedos e as palmas da mão. O cheiro que me invade as narinas possui todo o verdor da natureza.
Grata, regresso a casa pronta a trabalhar no meu romance, de cenário maioritariamente urbano, e tão perto de chegar ao fim. Até nisso a paisagem me ajuda.

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