domingo, 30 de maio de 2010

Às vezes


Às vezes, quando saio para a minha caminhada quase diária, levo a máquina digital comigo e agarro pormenores como este. Há semanas que estas florzinhas silvestres, azul-arroxeadas, andavam a chamar a minha atenção. A vida, a cor e a beleza irrompendo de um solo árido, feito de torrões de terra seca e tristonha. Lembra-me a nossa vida, às vezes.

sábado, 29 de maio de 2010

Afinal...será?

Quanto a vocês, não sei. A mim fez-me rir. Fez-me pensar. Fez-me reavaliar as prioridades nas nossas preocupações. Um orador iluminado e irresistível. Umasurpresa. Obrigada, Rosarinho.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Estreias

Às voltas com pormenores da edição do livro, com as notas do curso que começo a dar amanhã, sem rede, cronometrando as duas horas de cada sessão, com o pânico que sempre se apodera de mim a cada estreia. Depois corre tudo bem e eu fico muito contente e aliviada. Até lá, é um sofrimento. Devia servir para alguma coisa, este conhecimento prévio, esta consciência das minhas inseguranças costumeiras, mas não. De nada serve saber que é só a irracionalidade do pânico, não fosse essa a condição dos apavorados.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Morte

O peso da morte é imenso. Por momentos de tempo incerto, essa tragédia que envolve o morto num manto negro e misterioso que tudo esconde e que nós, vivos, jamais entenderemos, torna-se na sua única identidade. Uma escuridão onde somos incapazes de navegar, sem a orientação desse fenómeno que rouba o último suspiro de alguém.
Aos poucos, o tempo trata de ir tornando esse peso mais leve, cada vez mais leve, até que o morto vai ressurgindo, devagar, reconquistando a sua identidade, a sua forma, a sua vida. Como se a ceifeira se afastasse, satisfeita, despindo, enfim, o morto desse manto que o subjugava, para o tornar novamente vivo aos nossos olhos saudosos. É então que acreditamos ter perdido alguém para sempre e, em vez de lágrimas, lhe dedicamos um sorriso triste, ao aceitar que o futuro foi interrompido e que tudo o que nos resta são recordações.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Insónia

4.22 da manhã. Dei por mim a ver videos do Bugs Bunny, do Helmer Fudd, do Daffy Duck, do Coyote. Até que dei com este, que me fez pensar: se deixamos que um só sonho se torne a razão de ser da nossa existência, que fazer, quando ele um dia se realiza? Obrigada, Nanã. Enjoy.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

esgotado!

As vagas para o curso de Escrita Criativa que irei dar na Ericeira a partir do dia 28 deste mês estão todas preenchidas. A organização perguntou-me se podia aceitar mais inscrições e eu disse que sim. O concelho de Mafra é uma terra curiosa.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Ouro e prata

Entrou no palco muito composta, calçada com uns sapatos dourados. O concerto foi curto e intenso. DIane Reeves e a banda transportaram-nos num arco-íris de ritmos, cores, melodias e cumplicidade com o público, que bateu palmas até as mãos ficarem a arder. Falava connosco cantando, improvizando, desde a apresentação da banda fantástica que a acompanha há tanto tempo, até coisas como: "this is not a concert. Just have fun, relax, enjoy and pretend this is my living-room" e "after 60 performaces, this is not a stage, this is our playground!"
Uma senhora. Uma força da natureza: a voz, a figura, o espírito e a força que nos transmitiu. Fez-nos rir, deslumbrou-nos. Ela e os excelentes músicos que a acompanham e que, juntos com ela, faziam transições de andamentos e ritmos que nos faziam rir e bater palmas, rendidos. Terminou falando-nos na mãe, com 86 anos, cuja personalidade ilustrou com um canto religioso e crescente que, no auge, nos levou a algo aproximado ao êxtase: "NO MATTER WHAT, IT'S GONNA BE A GOOD DAY! EVERYDAY!"
Saiu descalça, com os sapatos dourados na mão, que retirou temas antes, sem que tivessemos reparado. Os músicos foram apagando o último tema, à medida que saíam do palco, até restar apenas o baterista, que foi largando o seu trém de cozinha, até lhe restarem apenas as baquetas, que usou para continuar a marcar o tempo, enquanto saía. Regressaram alinhados, a dançar ao som das nossas palmas, que não cessavam. Não houve encore. Como podiam voltar a sentar-se, abrandar e recomeçar depois de um auge daqueles...? O público sentiu isso e não insistiu. Estou certa de que todos saíram do CCB de alma cheia.
Seguimos as duas para a Fábrica de Braço de Prata, onde eu vergonhosamente nunca havia ido. Instalámo-nos numa sala acolhedora rodeada de livros e de música, para ouvirmos o Nanã e outros tocarem em jam session. A adrenalina ainda em alta, com o concerto. Partilhámos uma tosta mista, bebemos cerveja (Maria) e dois grande copos de vinho branco da Companhia das Lezírias (eu), sugerido e servido gentilmente pelo próprio Nuno Nabais. Ouvimos os músicos que tocavam só por tocar, por simples vontade, pelo prazer do encontro e o amor à música.
Foi uma noite boa.
Hoje acordei com a frase: "It's gonna be a good day, everyday!"
E não pretendo deixá-la fugir.
Obrigada, Maria Emauz.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Miguel Miranda

Chegou-me pelo correio com uma dedicatória do autor. Eu feliz, e envergonhadíssima por não conhecer um homem que, além de médico, é já um escritor com obra substancial e vencedor de prémios literários, incluindo o Grande Prémio de Conto APE. Muitos parabéns, Miguel Miranda (doutor...), pelo dia de hoje e pela escrita intensa, rica e irresistível, que encontrei desde as primeiras páginas. Irei à procura de mais, não tenha dúvidas. Obrigada pelo presente, que ainda estou a degustar. Quem ama os livros como eu, sabe que receber pelo correio um livro enviado por um autor, com dedicatória, é sempre alimento para a alma. Tive essa felicidade repetida com o João Aguiar que, sem me conhecer pessoalmente, teve a generosidade de enviar-me dois livros seus, entre os quais "O Tigre Sentado", que existe em Macau e que foi muito mal distribuído por cá. Valham-nos pessoas como estas, atenciosas com os desejos dos leitores. A amizade pode nascer assim, de livros e palavras. Votos de um dia muito feliz, Miguel.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Jorge de Sena

Este foi o presente que recebi do meu filho no Natal passado, a meu pedido. Como os livros se amontoam e multiplicam nas mãos de quem tem paixão por eles, só há pouco tempo tive ocasião de ler as 662 páginas que terminei hoje. Há anos que tinha curiosidade em lê-lo e foram horas bem investidas. Ficou a sensação semelhante à que me dá a obra de Bethoven: está lá tudo, a literatura "quase" não precisa de mais nada. O sentido poético, o humor, a reflexão psicológica e filosófica; descrições de mão cheia, versos, diálogos tão vivos que dão carne e osso aos personagens. Um romance magistral que tem dentro amizade, amor, sexo, violência, política, História e muito, muito da vida que se vivia na Figueira da Foz e em Lisboa, no tempo em que se forjavam as primeiras revoluções contra o regime. Escrito com uma franqueza desarmante, sem pruridos, num tom que oscila entre a prosa poética e a linguagem mais crua. Recomendo vivamente.
Obrigada, P., por espicaçares a minha curiosidade e enriqueceres o meu mundo, sempre. 

domingo, 16 de maio de 2010

Feira do Livro prolongada

"Devido a um conjunto de situações atípicas - as condições atmosféricas adversas que se fizeram sentir durante alguns dias, a visita do Papa a Lisboa e as comemorações da vitória do Benfica no Campeonato Nacional - que condicionaram a visita à Feira do Livro de Lisboa, a 80ª Feira do Livro de Lisboa vai ser prolongada até ao próximo dia 23 de Maio."
É uma óptima notícia, para quem ainda não pôde fazer uma visita ou está com ganas de regressar. Hoje, Domingo, pelas 16.00 e também no próximo sábado e domingo estará a Alice Vieira, no stand da Leya.
Roubei a notícia no site oficial da feira

sábado, 15 de maio de 2010

Vaquices

Sábado à tarde. Há quem vá de fim de semana para a praia, aproveitar o primeiro sol; quem prefira ou se veja forçado a enfiar-se em centros comerciais; ou quem vá ver uma exposição ou peça de teatro; um almoço com família e amigos...enfim.
Eu?
Fiquei por aqui. Uma amiga nossa que costuma pastar ao longe, comendo pedaços da paisagem que vemos da nossa casa, afastou-se das colegas e, audaz e curiosa, veio visitar-me e apresentar-se. Eu que costumava sentir-me frustrada por não conseguir fotografar as vacas suficientemente perto com a zoom da minha modesta máquina, tirei a barriga de misérias, pois senti-lhe o cheiro, o bafo e pude até contar-lhe as pestanas. Foi uma forma simpática de interromper a lida doméstica. Perguntei-lhe o que andava aqui a fazer, no início do alcatrão que termina defronte à nossa casa, quando podia estar placidamente a devorar o verde, como as manas quadrúpedes que lanchavam a poucos metros. Ela olhou para mim e em resposta mugiu bem alto, a ponto de me assustar e fazer-me rir. Os cães ladravam, furiosos e indignados com a lata da vaca. Ela não se deixou intimidar e partiu ao fim de uns dez minutos, quando lhe apeteceu juntar-e às outras. Nesta casa acontecem coisas assim, como esta. E é uma das razões porque troquei a cidade pelo campo. O que querem?, são caprichos.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Ricardo Araújo Pereira

"O País mais cristão do mundo"
"No ano de 1143, o Papa Inocêncio II reconheceu que Portugal era um país (mais ano menos ano, mais Papa menos Papa. Não me chateiem. O rigor histórico atrapalha quem quer trabalhar).
Oitocentos e sessenta e sete anos depois, temo que Bento XVI venha cá dizer-nos que talvez o seu antecessor se tenha precipitado
No ano de 1143, o Papa Inocêncio II reconheceu que Portugal era um país*. Oitocentos e sessenta e sete anos depois, temo que Bento XVI venha cá dizer-nos que talvez o seu antecessor se tenha precipitado. O Papa visita Portugal numa altura em que, ao que dizem pessoas versadas em economia, embora contradizendo outras pessoas igualmente versadas em economia, o País está à beira da bancarrota. É inquietante não perceber se o Papa vem abençoar-nos ou dar-nos a extrema-unção. Seria demasiado atentatório do protocolo que o Presidente Cavaco Silva tentasse convencer o Santo Padre a devolver-nos aquelas quatro onças de ouro que D. Afonso Henriques começou a pagar anualmente à Santa Sé? Podia ser uma boa ajuda para sair da crise, mas é provável que o Vaticano já tenha gasto tudo em hóstias e talha dourada.
Portugal pode ao menos aproveitar a visita do Papa para aprender com a Igreja, sobretudo nesta altura em que o País parece condenado a fazer à União Europeia o que a Igreja faz aos fiéis: pedir esmola. Na verdade, dificilmente haverá país que viva mais de acordo com a lei de Cristo do que Portugal: há anos que os portugueses têm vindo a despojar-se dos bens materiais e a abdicar da riqueza. Se os países morressem (e não é assim tão certo que o nosso não esteja com os pés para a cova), Portugal seria certamente dos que iriam para o céu.
Para o Papa, visitar Portugal é a decisão mais inteligente que poderia ter tomado. A Igreja tem sido abalada pelo escândalo de pedofilia, e não haverá nada mais sensato a fazer quando se está envolvido num escândalo do que viajar para um país em que os escândalos são corriqueiros. De todos os altos dignitários que vai encontrar, Bento XVI deve ser o que está menos atormentado por escândalos. Portugal é a Brobdingnag dos escândalos. Assim como Gulliver se sente mínimo em Brobdingnag, qualquer escândalo estrangeiro se sente pequenino em Portugal. O périplo do Papa pelo nosso país será o equivalente a uma pessoa que tem uma pequena nódoa na camisa ir rodear-se de pintores de parede com os fatos-macaco todos sarapintados. Quem se atreverá a censurar o Papa por comandar uma instituição que só pediu desculpa a Galileu mais de 350 anos depois do seu julgamento quando é essa, precisamente, a duração média de um julgamento em Portugal? Aqui, qualquer um se sente impoluto. Deve ser nisso que consiste a nossa celebrada hospitalidade."
(crónica publicada na revista "VISÃO", 6 de Maio 2010)

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Curso de Escrita Criativa

Estão abertas as inscrições para o curso breve de Escrita Criativa "ESCREVO O MEU PRIMEIRO CONTO", que irei dar todas as 6ªas feiras, a partir de 28 de Maio, até 2 de Julho, entre as 19.00 e as 21.00, na Biblioteca Municipal da Ericeira. É vocacionado para escritores adultos amadores, com uma vertente teórica e outra prática.
Número limite de inscrições: 20
Entrada gratuita, mediante inscrição prévia, com o apoio da Câmara Municipal de Mafra.
Inscrições e informações: 261 860 553
biblioteca.ericeira@cm-mafra.pt

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ai

Há coisas difíceis de fazer. Outras fáceis. Há outras que, não sendo difíceis nem fáceis, são chatinhas. Tão chatinhas que quando a hora se aproxima, cresce-me uma irritação miudinha que toma conta de mim. Eu bufo e resfolego, mas sei que não vou conseguir escapar. Não há como fugir, se não pretendo tornar-me uma fora-da-lei, aos olhos do Estado. Aparece todos os anos, implacável e zombeteira, pois sabe que eu, como loura e distraída que sou, só irei conseguir fazê-la chegar a bom porto ao fim de várias tentativas frustradas até que, por fim, grito de alívio, ao ver a mensagem no computador:

"A sua declaração de IRS foi entregue com sucesso".
Amanhã. Juro que não passa de amanhã.
Agora pronto, já jurei e lá terá de ser...

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Um novo caminho

Há coisas que fazemos, porque tem de ser; outras que não fazemos, por falta de vontade.
Há coisas que fazemos por convicção, outras não fazemos, por falta de fé;
Há coisas que fazemos por inércia, outras não fazemos por inércia também;
Há coisas que fazemos, porque vão ao encontro do que mais desejamos, e coisas que não fazemos, porque nos atrapalham o alcance de um desejo.
Hoje fiz o que tinha de fazer, por convicção, para ir ao encontro do que mais desejo.
E o não-fazer ficou para trás, desprezado, para me deixar avançar.
Comecei um novo caminho.
Que fazer? Percorrê-lo.
O que não fazer? Desistir.
Construí-lo, passo a passo, com o sonho na mira, e os pés sulcados na terra.
Roubei a imagem aqui

terça-feira, 4 de maio de 2010

Filosofices IV

Se eu voltasse a ser uma criança, havia de querer fazer uma série de perguntas que na altura não me ocorreram. Agora que sou crescida, até parece mal, mas mal que pergunte...

O que é que a palavra “tornozelo” tem a ver com “torno” e com “zelo”? Nada, não é? Então porque é que as juntaram? Às vezes parece que já não sabem que palavras hão-de inventar e começam a coser duas a duas, ao acaso:
“Pescoço” (coço os pés?)
“Moldura” (afinal, é mole ou é dura?)
“Barbaridade” (pôr barbas à idade? Uma idade bárbara?)
“Debalde” (e esfregona….?)
Caravela (ver a cara? Velar pela cara? Uma vela em forma de cara?)

Se respiramos com o peito, porque é que não usamos o verbo “respeitar”? Inspeita...expeita…inspeita…expeita. Respiro pelas palavras, perdão, haja respeito pelas palavras.

Se dizemos “almofada” e pomos os dentes debaixo dela, para a fada dos dentes, então porque é que não chamamos ao travesseiro, que é o macho, um “almoelfo”? Se não pudesse ser, ao menos, em vez de travesseiro, chamassem-lhe atravessador. É que é um objecto que dificilmente faz travessuras…ou faz e eu não sei? Então pronto, almofauno – que esses, os faunos, são bem mais travessos…

Se eu não tivesse encarnado, a minha alma morria? Não, ia buscar uma cor parecida, o cor-de-laranja ou o rosa, e misturava-lhe um bocadinho de luto.

Porque é que dizem que uma mulher está de saltos altos se ela, empoleirada em sapatos desses, tem tanta dificuldade em dar saltos? Muito menos, altos!

Ter unhas encravadas é termos flores a nascer-nos nos pés? E espremer um cravo, é torturá-lo até que ele nos confesse quantas abelhas é que conhece? É apertar-lhe as pétalas até que denuncie os seus companheiros? É tocar uma melodia num cravo, espremer-lhe as notas? Cravar dinheiro? Desculpem lá, mas é tudo muito complicado.
Pronto, isto era o que eu perguntava se fosse criança, mas agora sou crescida, já não dá.

domingo, 2 de maio de 2010

Mãe de um filho

Volto a postar o que publiquei no dia em que o meu filho completou 14 anos. Hoje, dia da mãe, pareceu-me apropriado. De resto, há coisas que são como o espírito de Natal: ideais para serem revividas e sentidas o ano inteiro. 
Um filho é a coisa mais verdadeira que se tem. Ser mãe é perder a paz para sempre, mas vale a pena. É um medo que nos engrandece e dá sentido ao nosso sangue. Retira-nos para sempre do egoísmo e oferece-nos um mundo novo e irrepetível de emoções sinceras, superiores e incomparáveis ao mundo atordoado em que vivemos e onde tentamos conquistar um cantinho ao sol. Um filho é ter o sol sempre cá dentro, mesmo em pleno temporal.